Archive for the ‘ Uncategorized ’ Category

“O contrário de nascer é morrer, mas o contrário de vida não é morte, por que, para nós crentes, a morte é simplesmente uma passagem; a vida continua em outra dimensão, de uma forma incomensuravelmente plena!” (Vasconcelos 2024)

Nos últimos 05 anos, passei por um processo de perdas irreparáveis, com a partida de pessoas extremamente queridas: perdi meu sogro, minha esposa, meu pai, minha mãe e, finalmente, minha sogra. Tudo isso, sem contar as perdas de outras pessoas bem próximas a mim!

Dizem que não é possível medir a intensidade da dor para se comparar perdas, mas confesso que a partida da minha esposa foi para mim a mais traumática e a mais difícil de todas elas, em função do tipo de convivência e do contexto da ocorrência: foram mais de 40 anos de uma convivência harmoniosa, repleta de boas lembranças e ocorreu em outubro de 2020, em plena pandemia de Covid! O isolamento levou-me a enfrentar um desafio enorme, que eu nunca poderia imaginar, agravado pelo fantasma do vírus: eu não podia visitar ninguém e ninguém podia me visitar e, às vezes, nem mesmo sair à rua! Fiquei isolado, sozinho, praticamente privado do contato de meus familiares, dos meus amigos e das pessoas em geral e tive que me contentar em simplesmente ouvir a voz e ver a imagem deles através de uma fria tela de celular.    

O turbilhão em que me vi envolvido, com uma sensação de solidão incomensurável, levou-me forçadamente a reaprender a viver em busca de novos significados. Nesse período, cheguei à conclusão que um dos caminhos mais seguros para atravessar o furacão seria partir do luto para a luta, investindo no entendimento do sentido da morte e da vida e no meu autoconhecimento. Arregacei as mangas e fui em frente! Nessa busca, descobri que a única forma de amenizar a minha dor seria descobrir ainda mais fundo quem era eu e encarar de frente as minhas perdas, por mais doloroso que fosse!

Senti-me na época, lembrando um conto da mitologia grega, como Édipo em frente à esfinge que ficava na entrada da cidade de Tebas, desafiando-o com a frase: “Decifra-me ou devoro-te”. Se ele não conseguisse decifrar o enigma a ele apresentado, a esfinge o devoraria. De forma similar, me vi nessa situação: ou eu partia para a luta em busca do autoconhecimento e da compreensão dos mistérios da morte e da vida ou eu morreria, mesmo em vida! Decidi partir para a luta! Foi então que, numa dessas iniciativas, dei início a um Curso de Formação em Psicanálise e de uma Especialização em Perdas e Luto, concluído recentemente e, com base nos conhecimentos adquiridos, pretendo colocar em prática, tanto em meu próprio proveito, quanto ajudando pessoas que estão passando por momentos difíceis com a perda de entes queridos.  

O aprendizado está sendo enorme! Senti na carne e aprofundei-me no entendimento a respeito da enorme fragilidade do ser humano! A proximidade e a convivência com a morte nos faz sentir o quanto é fugaz nossa permanência por aqui! Dezembro vai, janeiro vem e a vida passa rápido como um trem, já dizia o poeta. Cargos, poder, orgulho, beleza física, vaidade, bens, dinheiro nada disso conta no momento da passagem! Conta sim, e com força, o que e como você fez ou o que e como você deixou de fazer! Qual o legado você deixou!

Descobri que o contrário de nascer é morrer! Todos nós, seres humanos, por mais que relutemos, gostemos ou não e tenhamos medo de falar sobre isso, nascemos e morremos! Mas o contrário de vida não é morte, porque, para nós crentes, a morte é simplesmente uma passagem; a vida continua em outra dimensão, de uma forma incomensuravelmente plena! “Os olhos jamais contemplaram, ninguém sabe explicar o que Deus tem preparado para aqueles que em vida o amar”, diz o canto litúrgico. Como diz a psicóloga e escritora Ana Cláudia Quintana Arantes, a morte é um dia que vale a pena viver!

Descobri, de uma forma muito espiritualizada, que nossos entes queridos que se foram, onde quer que estejam, não querem que continuemos nossa missão por aqui isolados, fechados como um caracol dentro da sua casca, brigando com Deus e com o mundo, carregando o peso de uma infelicidade sem fim, deprimidos e caminhando para o abismo! Muito pelo contrário, querem que sejamos felizes!

Descobri que o mundo não pára para que a gente fique lamentando de forma interminável as nossas dores! A vida continua e precisamos ressignificá-la, espantando nossas dores e abrindo-se para novos amores e novos sabores!

Aprendi e senti na carne, como dizia Skakespeare, que as pessoas que mais amamos na nossa vida podem nos ser tomadas muito depressa, de forma inesperada e que, por isso sempre devemos deixá-las com palavras amorosas, pois pode ser a última vez que as vejamos! Confesso que esse pensamento me toca profundamente! Se me permitem, suplico-lhes: por favor, não deixe de refletir sobre isso, agora, já! Pense nas pessoas que você realmente ama, como foi a última vez que a deixou e corra atrás imediatamente, pois se você esperar, pode não dar mais tempo! …

Enfim, além de muitas outras coisas que aprendi, descobri que existe luz na escuridão, e para descobri-la é só aprender a enxergar de forma diferente e seguir em frente! Como dizia Luther King: se não puder voar, corra, se não puder correr, ande, se não puder andar, se arraste, mas continue em frente, de qualquer jeito!

Quem tem ouvidos, que ouça!

(Artigo publicado na pagina da Agência Primaz de Comunicação https://www.agenciaprimaz.com.br/2024/05/01/reflexoes-significado-da-morte-julio-vasconcelos/ em 01/05/24)

“Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que o coração está cheio”. (Mateus 12-34)

Recentemente teve grande repercussão na mídia o debate entre o poderoso Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre Morais e o bilionário Elon Musk, dono da Rede Social X, antigo Twitter. Moraes é relator no STF de inquéritos que investigam a disseminação de notícias falsas em redes sociais, especialmente sobre a lisura das urnas eletrônicas, sendo autor de despachos que suspenderam perfis envolvidos em espalhar desinformação sobre o processo eleitoral brasileiro.

Por sua vez, Musk entrou em cena, acusando o Ministro de ditador brutal, que tem o presidente Lula na coleira e ameaçando descumprir as determinações do STF, com a reativação dos perfis dos usuários bloqueados pela Justiça, quem sabe julgando-se acima da lei.

“Em breve, X vai publicar tudo o que foi exigido por @Alexandre e como essas exigências violam a lei brasileira. Este juiz tem aberta e repetidamente traído a Constituição e o povo do Brasil”, escreveu Musk na postagem, que termina com: “Vergonha, Alexandre, vergonha”!

Independentemente das questões políticas e fortemente narcisistas envolvidas no debate entre esses dois figurões, surgem no ar algumas perguntas que não querem se calar: existe limite para a liberdade de expressão? Até onde vai a liberdade de expressão e entra a censura? Afinal, quem tem razão: o poderoso Ministro ou o Mega Empresário?

Por mais que queiramos nos manter alheios a essa polêmica, como cidadãos não podemos deixar de nos questionarmos a respeito. O período eleitoral está chegando por aí e, infelizmente, o histórico nos mostra que a baixaria costuma andar solta pelas redes sociais, às vezes bem pertinho de nós!

O Doutor René Dentz explanou recentemente com maestria em um Artigo seu a respeito do assunto, divulgado no Jornal Panfletus:

“Um dos maiores perigos associados às redes sociais é a disseminação de fake news, que representam uma ameaça à democracia e ao discurso público saudável. A capacidade das plataformas de alcançar grandes audiências em tempo real torna-as um terreno fértil para a propagação de informações falsas e manipulativas, que podem influenciar a opinião pública e distorcer o processo democrático. Portanto, combater a disseminação de desinformação tornou-se uma prioridade urgente para garantir a integridade dos sistemas democráticos”.

Imagine, só por um momento, mesmo à contragosto, que você é um candidato à eleição ou reeleição de um cargo público e um sujeito qualquer divulga nas redes sociais notícias falsas a seu respeito, denegrindo maquiavelicamente não só a sua imagem, mas também a de todos os seus familiares, absolutamente sem nenhuma evidência legal e, pior ainda, de forma recorrente e cada vez mais caluniosa. O que você faria? Cada um responda de acordo com o seu caráter e o que lhe dita seus princípios e valores…

No meu ponto de vista, o que o que realmente está faltando é respeito humano, integridade e espiritualidade em sua essência, não importa de que lado estejam os personagens envolvidos. Precisamos acabar de vez com esse papo de discurso do ódio e colocar em prática o discurso do amor! Sei que isso pode parecer papo de beato, utopia de viajante celestial, mas   entendo que a essência do problema não está na falta de legislação, nem no tipo de mídia utilizado e sim, com certeza, no coração das pessoas. Evidentemente que, em um sistema democrático, todo mundo tem o direito de discordar do ponto de vista do outro, mas isso não lhe dá, absolutamente, o direito de usar de calúnias, notícias falsas e até palavrões para expressar o que pensa, quer seja direcionado a um a pessoa, a uma instituição ou a um sistema instituído. 

Vale lembrar que Jesus, no Evangelho de Mateus 12-34, externa sua ira contra os fariseus daquela época e, por que não, também contra os da nossa época, retratando claramente essa questão:

“Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que o coração está cheio”.

Enfim, será que estamos vivendo numa selva repleta de víboras que só desejam envenenar e destruir o que está posto, pensando única e exclusivamente, de forma maquiavélica, no próprio benefício?

Quem tem ouvidos, que ouça!…

(Artigo publicado na pa´gina da Agência Primaz de Comunicação https://www.agenciaprimaz.com.br/2024/04/17/censura-liberdade-de-opiniao-julio-vasconcelos/ em 17/04/24)

“A bestialidade humana pode nos condenar a morrermos todos congelados, com cada ser humano segurando um pequeno feixe de lenha em volta de uma fogueira que vai lentamente se apagando”. (Vasconcelos, 2024)

Infelizmente, vivemos em um mundo onde muito ainda temos a aprender em termos de conviver com a diversidade e entender que somos filhos de um mesmo Pai e que se não aprendermos a viver em paz e nos ajudarmos uns aos outros, estaremos todos fadados à destruição.

A guerra da Rússia com a Ucrânia já entra para o seu terceiro ano, sem nenhum sinal de fim próximo e cerca de 700 mil vidas já foram perdidas. A Guerra de Israel com o Hamas já está entrando no seu sexto mês e o número de mortos na Faixa de Gaza ultrapassou a marca dos 30 mil desde o início do conflito em 7 de outubro de 2023. Os esforços do mundo dito civilizado com suas crenças, suas religiões e suas organizações responsáveis pela ordem mundial se mostram insuficientes para o restabelecimento da paz!

 O que realmente assusta é que não precisamos ir muito longe para enxergar o estrago que a violência vem trazendo aqui bem perto de nós no Brasil, considerado o maior país católico do mundo! Um relatório divulgado pelo Atlas da Violência 2023 ressalta que 24.217 jovens tiveram suas vidas ceifadas prematuramente, com uma média de 66 jovens assassinados por dia no país. Considerando a série histórica dos últimos onze anos (2011-2021), foram 326.532 jovens vítimas da violência letal, enfatiza a publicação.

Todas essas tragédias me trazem à memória um conto que ouvi uns tempos atrás e que pode elucidar bem a estupidez do momento que estamos vivendo.

Conta a estória que seis homens ficaram bloqueados numa caverna por uma avalanche de neve. Teriam que esperar até o amanhecer para poderem receber socorro. Cada um deles trazia um pouco de lenha e havia uma pequena fogueira ao redor da qual eles se aqueciam. Se o fogo apagasse, eles o sabiam, todos morreriam de frio antes que o dia clareasse.

Chegou a hora de cada um colocar sua lenha na fogueira. Era a única maneira de poderem sobreviver. O primeiro homem era um racista. Ele olhou demoradamente para os outros cinco e descobriu que um deles tinha a pele escura. Então ele raciocinou consigo mesmo:

-Aquele negro! Jamais darei minha lenha para aquecer um negro! e guardou-as protegendo-as dos olhares dos demais.

O segundo homem era um rico avarento. Ele estava ali porque esperava receber os juros de uma dívida. Olhou ao redor e viu, no círculo em torno do fogo bruxuleante, um homem da montanha que trazia sua pobreza no aspecto rude do semblante e nas roupas velhas e remendadas. Ele fez as contas do valor da sua lenha e, enquanto mentalmente sonhava com o seu lucro, pensou:

-Eu, dar a minha lenha para aquecer um preguiçoso?

O terceiro homem era o negro. Seus olhos faiscavam de ira e ressentimento. Não havia qualquer sinal de perdão ou mesmo aquela superioridade moral que o sofrimento ensinava. Seu pensamento era muito prático:

-É bem provável que eu precise desta lenha para me defender. Além disso, eu jamais daria minha lenha para salvar aqueles que me oprimem. E guardou suas lenhas com cuidado.

O quarto homem era o pobre da montanha. Ele conhecia mais do que os outros os caminhos, os perigos e os segredos da neve. Ele pensou:

-Essa nevasca pode durar vários dias, vou guardar minha lenha.

O quinto homem parecia alheio a tudo. Era um sonhador. Olhando fixamente para as brasas, nem lhe passou pela cabeça oferecer da lenha que carregava. Ele estava preocupado demais com suas alucinações para pensar em ser útil.

O último homem trazia, nos vincos da testa e nas palmas calosas das mãos, os sinais de uma vida de trabalho. Seu raciocínio era curto e rápido:

-Essa lenha é minha. Custou o meu trabalho. Não darei a ninguém nem mesmo o menor dos meus gravetos.

Com estes pensamentos, os seis homens permaneceram imóveis. A última brasa da fogueira se cobriu de cinzas e finalmente apagou. Ao alvorecer do dia, quando os homens do socorro chegaram à caverna, encontraram seis cadáveres congelados, cada qual segurando um feixe de lenha. Olhando para aquele triste quadro, o chefe da equipe de socorro disse:

-O frio que os matou não foi o frio de fora, mas o frio de dentro! …

Surgem no ar algumas perguntas que não querem se calar:

-Qual a semelhança entre esses personagens que ficaram presos na caverna e as lideranças que estão por trás das grandes potências mundiais? Qual a semelhança entre os pequenos feixes de lenha e as disputas por pequenas faixas de terra? Qual a semelhança entre a caverna e esse asteroide pequeno que chamamos de terra? Será que estamos todos condenados a morrer congelados, cada um segurando inutilmente seu pequeno “feixe de lenha”?

Quem tem ouvidos, que ouça!

(Artigo publicado na página da Agência Primaz de Comunicação https://www.agenciaprimaz.com.br/2024/04/03/o-frio-que-vem-de-dentro-julio-vasconcelos/ em 03/04/24)

“Muito cuidado com o que os seus ouvidos ouvem e seus olhos veem, por que a realidade pode estar sendo sub-repticiamente manipulada”… (Vasconcelos, 2016)

As eleições estão chegando por aí e com elas as tumultuadas campanhas eleitorais, carregadas de um ódio subjacente e de acusações mútuas, às vezes com baixarias e falta de respeito humano ou, como prega a Campanha da Fraternidade, falta de “Fraternidade e Amizade Social”, apesar de todos se dizerem cristãos, quer seja de centro, de direita ou de esquerda. Chega a ser bizarro, porque, passadas as eleições, tem a famosa Missa de Ação de Graças, com todas as pompas e lugares reservados para os políticos e figurões da sociedade, promovida pelos vencedores!

É um fato que vivemos em um País democrático e isso dá direito a todos nós de expressarmos livremente as nossas crenças, nossos valores, nossa ideologia e nossas opções partidárias, mas não dá direito a ninguém de sair atacando os adversários com fake-news, calúnias e acusações infundadas, em vez de destacar as competências dos postulantes aos cargos e de seus programas de governo. 

Uma campanha política adequada é aquela que respeita os princípios éticos, promove a transparência, defende propostas claras e relevantes para a sociedade e busca engajar os eleitores de maneira positiva. Para isso, alguns elementos essenciais deveriam ser observados. O primeiro deles é a ética e a integridade: os candidatos deveriam conduzir suas campanhas de maneira ética e íntegra, evitando práticas como disseminação de informações falsas, ataques pessoais ou difamação de oponentes. Infelizmente, as mídias sociais estão repletas de contraexemplos, nesse sentido. Para constatar, basta fazer uma navegação rápida pelos face-books e instagrans da vida. 

O segundo é a transparência: as campanhas deveriam ser transparentes em relação ao financiamento, gastos e fontes de apoio, garantindo que os eleitores saibam quem está financiando a campanha e quais interesses podem estar envolvidos. O problema aqui é que a quantidade enorme de dinheiro público e privado, o famoso toma-lá, dá cá, que rola pelas campanhas sobe à cabeça dos políticos e eles acabam entrando pelo caminho da corrupção! A transparência passa longe!    

O terceiro elemento está relacionado com as propostas e ideias: os candidatos deveriam apresentar propostas claras e relevantes para os problemas enfrentados pela sociedade, oferecendo soluções viáveis e realistas para questões importantes como saúde, moradia, educação, segurança, meio ambiente, entre outras. O maior problema é que, na maioria das vezes, as propostas, as ideias e os programas de governo quando existem, passadas as eleições, acabam indo para a gaveta dos vencedores e de lá nunca mais saem.

O quarto elemento traz em pauta o diálogo franco, aberto e o debate construtivo sobre questões políticas e sociais, oferecendo oportunidades para os eleitores conhecerem as diferentes visões e propostas dos candidatos. É muito triste constatar, mas, quase sempre, em vez de diálogo franco, aberto e debate construtivo, o que vemos é o famoso “barraco”, com acusações mútuas e uma tremenda falta de respeito ao adversário.

O quinto aborda a questão do engajamento cívico: os candidatos deveriam investir no engajamento dos eleitores de maneira positiva, incentivando a participação cívica, o voto informado e o debate público sobre questões de interesse coletivo, com respeito às opiniões divergentes. É como dizia Voltaire, o grande filósofo francês (1694-1778): “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até o fim o seu direito de dizê-lo”.

O sexto elemento exige o respeito à Legislação Eleitoral: as campanhas devem cumprir rigorosamente as leis eleitorais em vigor, respeitando prazos, limites de gastos e regras de propaganda estabelecidas pelas autoridades competentes. Infelizmente, estamos cansados de tanta bagunça, com a dança das cadeiras por aqui no nosso Município. Às vezes me pergunto, até quando isso vai durar? 

A inclusão e a diversidade formam outro elemento importante: as campanhas devem ser inclusivas e representativas da diversidade da sociedade, garantindo espaço para diferentes vozes, grupos e comunidades participarem do processo político. Na prática, aqui o que observamos que o que realmente vale é o poder do capital financeiro da elite da sociedade.   

E por último, como não poderia deixar de ser, vem a questão das fake-news: os candidatos e os seus eleitores deveriam combater radicalmente a disseminação de notícias falsas e desinformação, não importa a origem, promovendo a verdade e a credibilidade das informações compartilhadas durante a campanha. Infelizmente, também o que podemos constatar aqui é que as mídias sociais nessa época, com muito mais ênfase, se tornam um lugar de ninguém, onde um bando de malucos inconsequentes, como se estivessem com uma metralhadora giratória, dão tiros para todos os lados, não dando a mínima para a confusão que podem gerar. Parece que a máxima que impera é “quanto pior, melhor”!    

Evidentemente que, ao adotar esses princípios e práticas, os candidatos podem contribuir para uma campanha política mais ética, transparente e responsável, fortalecendo a democracia e a participação cívica dos cidadãos, onde, no final, todos saem ganhando.

É como diz Beto Guedes na sua linda canção “Sol de Primavera”: a lição sabemos de cor, só nos resta aprender ou, diria eu, apreender e colocarem prática.

Quem tem ouvidos, que ouça!

(Artigo publicado na página da Agência Primaz de Comunicação https://www.agenciaprimaz.com.br/2024/03/20/campanhas-eleitorais-julio-vasconcelos/ em 20/03/24)

Narcisismo: Morrendo de sede em frente ao espelho d’água

“As redes sociais são os espelhos miraculosos dos narcisistas contemporâneos” (Vasconcelos, 2024)

Ele é arrogante, tem mania de grandiosidade, obsessão por aparecer e uma enorme necessidade de ser adulado e admirado. Não tem nenhum sentimento de empatia, acha que tudo o que faz é excepcional e menospreza as conquistas dos demais. Desvaloriza e humilha os outros para elevar a si mesmo, só disponibiliza ajuda pensando egoisticamente em ser beneficiado e mente capciosamente. Quando assume o poder, é uma verdadeira desgraça!

Pode ser que você já tenha convivido, conviva ou conheça alguém com esse tipo de personalidade e saiba exatamente o quanto é difícil conviver com ele. Esse tipo de comportamento é característico de um grave transtorno de personalidade e a psicologia classifica como Transtorno de Personalidade Narcisista – TPN. Por mais estranho que pareça, infelizmente, não é muito difícil encontrar indivíduos com esses traços marcantes na nossa sociedade, principalmente na política, no governo, no futebol, no ambiente de trabalho e até na religião. Quer conferir, é só navegar pelas mídias sociais com personagens se autoprojetando através de inúmeras e repetitivas reportagens, discursos e mensagens fúteis e posts com fotos disponibilizadas na rede, esnobando enfaticamente e com frequência a roupa de grife que comprou, a boate ou restaurante que frequentou, o Cruzeiro que participou, o lugar paradisíaco onde foi passear e até as cenas íntimas familiares, como se tivessem a melhor família do mundo!      

As origens desse transtorno remontam à antiguidade com um famoso conto da Mitologia Grega; o Mito de Narciso. Conhecer um pouco dessa história pode nos ajudar a entender do que estamos falando.

A versão mais conhecida do mito de Narciso é a contada pelo poeta romano Ovídio (43 a.C.-18 d.C.) em sua obra Metamorfoses. Diz o mito que Narciso era filho da ninfa Liríope e de Céfiso, deus dos lagos. Certa vez, quando Narciso ainda era uma criança, sua mãe procurou o adivinho Tirésias, para saber se o filho teria uma vida longa. A resposta deixou Liríope perturbada: “Ele só viverá muito se não conhecer a si mesmo”.

Desde pequeno, Narciso chamava a atenção pela sua extrema beleza. Conforme os anos foram se passando, não faltaram pretendentes, tanto meninas quanto meninos, interessados pelo belo rapaz, mas Narciso não queria saber de ninguém, desprezava todos e se sentia sempre o máximo!

Narciso cresceu sempre desprezando todo mundo que ousasse conquistá-lo, até que um dia uma ninfa clamou aos deuses para que Narciso fosse punido e a punição veio pelas mãos de Nêmesis, a deusa da vingança.

Durante um passeio pelo bosque, Narciso encontrou uma fonte de água cristalina que até então nenhum ser vivo havia tocado. Debruçou-se sobre a fonte e, como naquela época não tinha espelho, sem se dar conta de que se tratava de seu próprio reflexo, acreditou estar vendo um belíssimo jovem olhando diretamente para ele. O deslumbramento foi tão grande que Narciso não conseguia mais parar de olhar para aquele misterioso rapaz. Estava perdidamente apaixonado pela própria imagem e então, logo em seguida, veio a enorme decepção! O amor de Narciso não era correspondido, pois não podia abraçar o seu maravilhoso amado! Apesar disso, recusou-se a abandonar a fonte de água, na esperança de que um dia pudesse concretizar o seu amor. O tempo foi passando e isso nunca aconteceu. Profundamente deprimido pelo amor não correspondido, Narciso deixou de comer e beber e acabou morrendo de fome e de sede à beira da fonte de água.

Narciso era tão arrogante e se sentia tão especial que, aos seus olhos, ninguém era tão bom o bastante como ele. Sua vaidade excessiva fez com que só se apaixonasse por si mesmo e isso o levou à perdição!

Assim sendo, com esse comportamento, o poder nas mãos de um narcisista funciona como uma verdadeira bomba atômica: quanto maior o poder, maior o estrago! Destroem tudo que está ao seu redor e, sem perceber, a si mesmos! Assim foi com Nero, Calígula, Adolph Hitler, Muammar Gaddafi, Saddam Hussein e muitos outros. O problema maior é que essa fonte de auto idólatras nunca seca! Infelizmente, se fizermos um breve levantamento, vamos perceber que temos, nos dias de hoje, muitos deles circulando por aí, não só nos púlpitos e nos palácios (ou afastados deles) mas também muito mais perto de nós do que pensamos! Que Deus nos livre de todos eles!

Quem tem ouvidos, que ouça! …

(Artigo publicado na página da Agência Primaz de Comunicação https://www.agenciaprimaz.com.br/2024/03/07/narcisismo-morrendo-de-sede-julio-vasconcelos/ em 07/03/24)

“Como irmãos e irmãs, somos convidados a construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum”. (Papa Francisco)

Este ano tive a oportunidade de passar o feriado de carnaval de forma atípica, em Brasília, em pleno Planalto Central! Na verdade, de carnaval mesmo não tinha nada por lá! Apenas alguns poucos foliões vagando meio perdidos pelos enormes canteiros centrais da Esplanada dos Ministérios, buscando inutilmente um batuque onde pudessem foliar, mas sem nada encontrar! Nem parecia que eu estava no Brasil! Mas o que realmente me chamou a atenção foi o enorme contraste social! No centro, além da grande quantidade de gigantescos prédios oficiais enfileirados dos dois lados da Esplanada, destacam-se, com ostentação, a magnífica Catedral e os enormes e suntuosos edifícios, concentrando uma elite de elevadíssimo poder aquisitivo! Ao contrário, nos diversos aglomerados espalhados pelos arredores, precariedade e miséria! Fiquei a me perguntar qual seria a origem de tamanho contraste. Portanto, vejamos.

Estima-se que o custo direto da construção de Brasília na década de 50, com suas monumentais construções e amplas rodovias que fazem a ligação com os Estados, foi de U$83 bilhões de dólares em valores atuais, ou seja, quase R$500 bilhões de reais. Para se ter uma ideia de grandeza, este valor é equivalente a mil arenas de futebol construídas para a Copa do Mundo, em um país com um PIB mais de cem vezes menor que hoje, na época. Como o Governo JK não tinha dinheiro disponível para um projeto faraônico como aquele, o recurso foi emitir moedas de forma acelerada. A consequência imediata foi a sua rápida desvalorização e o aumento descontrolado da inflação e, com isso, a perda do poder de compra da população, afetando principalmente os mais pobres. Na sequência, surgiu uma enorme instabilidade econômica, com desabastecimentos frequentes, culminando com a hiperinflação dos anos 80.

Estima-se que cerca de 60 mil operários vindos principalmente das regiões norte e nordeste do país, os chamados candangos, trabalharam para construção da nova capital. O cotidiano deles era duro e as condições de trabalho precárias. Vale considerar que o termo candango é de origem africana e significa vilão, ruim, ordinário. Eles chegavam a trabalhar 16 horas por dia e ficavam alojados em instalações precárias, sem condições de higiene e de local adequado para alimentação. Os serventes eram alojados em grandes galpões e os mestres de obra dormiam em pequenos quartos improvisados de madeira. O trabalho era intenso, a fiscalização, nula e elevados os números de acidentes do trabalho, alguns fatais. Na época, chegaram a surgir boatos de que os corpos de trabalhadores mortos eram depositados nas colunas de concreto que sustentam três dos símbolos mais icônicos da capital – Congresso Nacional, Esplanada dos Ministérios e Torre de TV. As fotos antigas da construção nos dão uma visão concreta da precariedade do trabalho naquela época.

Concluída a obra, que durou cerca de 04 anos, os trabalhadores foram demitidos e orientados a retornarem para seus locais de origem, o que não aconteceu; a grande maioria preferiu ficar por ali. Impossibilitados de morar na parte central da cidade, se espalharam pelos arredores e daí nasceu Ceilândia e depois a Favela do Sol Nascente, considerada a maior favela do país, com cerca de 93 mil habitantes, maior do que a própria Rocinha, do Rio de Janeiro.

Bom, afinal, além de conhecer um pouco sobre os custos para a construção de Brasília e sobre o sacrifício de muitos que chegaram a dar a própria vida para a conclusão do projeto, o que podemos aprender com isso tudo?

Não sou o dono da verdade e nem quero ser! Também não sou especialista no assunto e nem quero denegrir a figura de Juscelino Kubistchek com seu sonho utópico (ou distópico) mas, talvez entrando no espírito da Quaresma e do tema da Campanha da Fraternidade – “Fraternidade e Amizade Social”, me pergunto:

E se os quase R$500 bilhões de reais gastos na construção da obra tivessem sido aplicados de forma estratégica em moradias dignas, saneamento básico, educação, saúde e geração de emprego e renda e transporte público para a população brasileira de uma forma geral? O que teria acontecido?

E se tivessem diminuído o número de políticos e seus aspones, de ministérios e secretarias e suas enormes mordomias e contratado profissionais técnicos, competentes e íntegros na gestão da máquina pública? O que teria acontecido?

E se tivessem construído uma cidade com uma estrutura socialmente equalitária, com menos ostentação no prédio faraônico da catedral, com menos palácios suntuosos, com menos apartamentos funcionais e com menos mansões na beira do Lago Paranoá? Quantas moradias decentes seriam construídas para a população? Quantos hospitais e escolas seriam construídos? O que teria acontecido?

Creio que todos sabiam a resposta, só faltou colocar em prática! …

O mais duro é sentir que não precisamos ir muito longe para perceber que os contraexemplos de Brasília estão muito mais próximos de nós do que pensamos! Como diz o cantor e poeta mineiro Beto Guedes na sua belíssima canção “Sol de Primavera”: “A lição sabemos de cor, só nos resta aprender”.

Quem tem ouvidos, que ouça!

(Artigo publicado na página da Agência Primaz de Comunicação https://www.agenciaprimaz.com.br/2024/02/21/sob-os-ceus-de-brasilia-e-se/ em 21/02/24)

“Que os homens carreguem nos ombros a graça de um pai, que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor e que os filhos conheçam a força que brota do amor!” (Padre Zezinho)

Já tivemos oportunidade de trazer nessa coluna alguns artigos com o objetivo de refletir um pouco sobre os ensinamentos da Mitologia Grega relacionados ao comportamento do ser humano: O Mito das Cavernas de Platão, abordando a questão do desenvolvimento espiritual, o Anel de Ginges sobre questões éticas e O Mito de Sísifo, sobre a bestialidade do ser humano. Hoje gostaríamos de refletir pouco sobre o Mito de Édipo, escrito pelo filósofo Sófocles no Século V A.C, e as relações familiares.

Conta a história que Édipo era filho de Laio e Jocasta, reis da cidade de Tebas. Um oráculo de Delfos anunciou-lhes que Édipo mataria o próprio pai e casaria com a mãe. Em estado de choque, os pais entregam a criança para um servo para que ele a matasse. O servo, com pena da criança, deixou-a amarrada pelo pé em uma árvore, em um bosque e desapareceu.

Édipo então é encontrado por um camponês, que o leva para Corinto e lá ele é adotado por Pólibo e Mérope, reis dessa cidade. Ele cresce acreditando ser filho biológico deles.

Quando adulto, Édipo vai ao mesmo oráculo de Delfos e recebe a mesma profecia que seus pais tinham recebido quando ele nascera: ele seria o responsável por matar o próprio pai e desposar a própria mãe. Para fugir de seu destino, Édipo decide sair de Corinto e se mudar para Tebas, cidade onde nasceu. No caminho, ele encontra Laio, (sem saber que era seu pai), e um servo e eles se desentendem por questões banais relacionadas à obstrução do caminho que estavam seguindo. No meio da confusão, Édipo é agredido, fica enfurecido, perde o controle e acaba assassinando Laio e o seu servo, matando assim, sem saber, o seu próprio pai

Chegando a Tebas, Édipo encontra a cidade sendo atacada por uma esfinge, um ser monstruoso que apresenta um enigma a todos os viajantes que chegam lá. Os que não sabiam a resposta eram mortos por ela. Édipo consegue então desvendar o enigma e a esfinge envergonhada, comete suicídio, lançando-se em um precipício. A população de Tebas fica profundamente grata por Édipo libertar a cidade daquele monstro e, em gratidão, oferece a ele o trono da cidade e a mão da rainha Jocasta em casamento. Édipo, sem saber que Jocasta era sua mãe, aceita tanto o trono quanto o casamento, tornando-se rei de Tebas e marido de sua própria mãe, tendo com ela quatro filhos.

Anos depois, uma praga atinge Tebas e Édipo procura a ajuda de um adivinho para conseguir livrar sua cidade desse mal. O adivinho desvenda a verdade e conta tudo a Édipo, afirmando que ele tinha assassinado seu pai, casado com a sua mãe e era o responsável pela tragédia que afetava seu reino.

Dessa forma, Édipo e sua mãe Jocasta entendem a desgraça que tinha acontecido. Jocasta, então, em profundo desespero, tira a própria vida. Édipo, abdica do trono de Tebas e, desesperado, fura seus próprios olhos, passando a vagar como um mendigo pela cidade.

Então, o que podemos aprender com essa terrível tragédia grega?

Para responder a essa pergunta, em um primeiro momento, é necessário recorrer ao médico e psicanalista alemão Sigmund Freud (1856-1939), considerado o “o Pai da Psicanálise”. Ele se apropriou do Mito de Édipo para formular sua Teoria do Complexo de Édipo, onde pregava que, em toda família, existe inconscientemente um desejo incestuoso do filho, enquanto criança, pela mãe e o pai é uma figura odiada por atrapalhar essa relação. Sendo assim, todo menino normalmente enxerga, entre os três e os seis anos de idade, o pai como um rival e deseja de forma inconsciente a sua morte. Com o passar do tempo e o amadurecimento, esse complexo é normalmente superado, no entanto, existem alguns casos clínicos que precisam de terapia e aí surge a psicanálise. Mais tarde, Jung, outro grande psicanalista suíço, contemporâneo de Freud, criou o Complexo de Electra, onde a filha se apaixona pelo pai e, da mesma forma, inconscientemente deseja a morte da mãe. Mas deixemos de lado Freud e Jung e suas teorias e vamos dar uma olhada em alguns fatos do nosso mundo atual.

Quantos pais e mães abandonam seus filhos pequenos na floresta selvagem da televisão, da internet, dos joguinhos eletrônicos e das redes sociais, justificando que não têm tempo para cuidar deles?

Quantos filhos adultos matam seus pais, não só fisicamente, mas de preocupação e desespero por se enveredarem no mundo das drogas e da prostituição?

Quantos filhos adultos exploram e abusam de suas mães, acomodados e preguiçosos dentro de casa, sem fazer nada, enquanto elas trabalham arduamente para sustentar o lar?

Quantas mães se suicidam lentamente no mundo da vaidade, do exibicionismo e da futilidade exacerbados, deixando seus filhos pequenos sem educação, sem carinho e sem proteção?

Quantos filhos adultos andam sem rumo e sem direção pelas ruas como se estivessem com os olhos furados, sem enxergar que estão indo direto para o fundo do poço!

Infelizmente, as nossas famílias estão se desestruturando e a tragédia vivida por Édipo anda dando fortes sinais que ronda por aí! Como tão bem declama o nosso querido Padre Zezinho em sua Oração da Família, precisamos nos conscientizar e orar para que as famílias comecem e terminem sabendo onde vão, que os homens carreguem nos ombros a graça de um pai, que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor e que os filhos conheçam a força que brota do amor!

Quem tem ouvidos, que ouça!

(Artigo publicado na página da Agência Primaz de Comunicação https://www.agenciaprimaz.com.br/2024/02/07/mito-de-edipo-julio-vasconcelos/ em 07/02/24)

GÊNESIS

No princípio Deus criou o Universo…

O Universo transou com a Via Láctea e geraram a Terra;

A Terra transou com o Cometa e geraram o Sol;

O Sol transou com a Lua e geraram o Dia;

E o Dia trouxe a Luz!

O Amor transou com a Beleza e geraram o Éden;

O Éden transou com a Natureza e geraram o Homem;

O Homem transou com a Mulher e geraram a Humanidade;

E a Humanidade ocupou a Terra!

O Furacão transou com a Borrasca e geraram a Ventania;

A Ventania transou com o Vento e geraram a Brisa;

A Brisa transou com o Sopro e geraram a Respiração;

E a Respiração trouxe a Vida!

O Ciclone transou com a Tempestade e geraram a Chuva;

A Chuva transou com o Sereno e geraram a Terra fértil;

A Terra fértil transou com a Semente e geraram o Alimento;

E o Alimento trouxe a Existência!

O Caminho transou com a Trilha e geraram o Acesso,

O Acesso transou com a Estrada e geraram a Rua;

A Rua transou com o Beco e geraram a Praça;

E a Praça acolheu os Casais!

O Morro transou com a Cordilheira e geraram o Monte;

O Monte transou com a Colina e geraram o Pico;

O Pico transou com a Planície e geraram a Paisagem;

E a Paisagem ocupou os espaços.

O Lago transou com a Lagoa e geraram o Córrego;

O Córrego transou com a Correnteza e geraram o Rio;

O Rio transou com a Cachoeira e geraram o Mar;

E o Mar ensinou os Homens a navegar!

O Bosque transou com a Floresta e geraram a Árvore;

A Árvore transou com o Arbusto e geraram a planta!

A Planta transou com o Pólen e geraram a Flor;

E a Flor ensinou os Homens a amar!

E Deus viu que tudo isso eram bom!…

“Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus”. (Mateus 5:43,44)

Infelizmente, vivemos em um mundo caótico, onde o ser humano dominou a terra, os mares e os ares, construiu edificações e estruturas magníficas e grandiosas, inventou tecnologias de ponta nunca antes imagináveis, conquistou o espaço e chegou até outros planetas, no entanto, continua, de forma estúpida, se autodestruindo em um círculo vicioso que parece nunca ter fim!

O mundo está em guerra! A Rússia invade a Ucrânia, sacrificando milhares de inocentes! O Oriente Médio pega fogo com a bomba atômica rondando a sua volta na iminência de explodir, com o risco de gerar uma enorme catástrofe por toda a terra!  

O meio ambiente grita agonizante por socorro! A temperatura da terra se eleva de forma alarmante, geleiras glaciais começam a se derreter como uma pedra de gelo exposta ao sol, furacões destroem cidades inteiras! Em uma parte do planeta, tempestades e alagamentos tomam conta das cidades, em outras, uma seca terrível esvazia os rios, destruindo toda a biota, como a dizer para os homens que são um bando de idiotas! E assim caminha a humanidade!

A milenar sabedoria grega, com sua mitologia, nos traz uma grande oportunidade de reflexão com o Mito de Sísifo, através de um Ensaio criado pelo filósofo francês Albert Camus, em 1942, nos primórdios da segunda guerra mundial. Portanto, vejamos.

Conta a história que Sísifo era rei da Tessália e de Enarete, que mais tarde veio a chamar-se Corinto e tinha a reputação de ser o mais habilidoso e esperto de todos os homens, a tal ponto de conseguir enganar os deuses de forma ardilosa, com a permissão para voltar à terra após a sua morte. Seu comportamento enganoso despertou a ira de Zeus, a divindade suprema na religiosidade dos gregos antigos, que o condenou a um duro e cruel castigo, pior do que a morte! Sísifo foi, então, condenado para todo o sempre a rolar diariamente uma enorme pedra até o topo de uma montanha. Ao chegar no cume, o peso e o cansaço causados pelo extenuante trabalho fariam a pedra rolar novamente até ao pé da montanha e ele deveria obrigatoriamente começar tudo de novo! Tamanho castigo teria que ser sempre repetido através da eternidade!

Então, não seria o Mito de Sísifo aplicável à nossa realidade? Prédios colossais e cidades inteiras são construídos, destruídos, reconstruídos e depois destruídos novamente, em um vai e vem sem fim!  A população mundial aumenta e de repente inventa-se uma guerra estúpida onde morrem milhares de seres inocentes. Logo depois vem um “Baby Boom” e começa tudo de novo!

Até quando vamos continuar construindo, destruindo e reconstruindo em um círculo vicioso que não tem fim? Até quando vamos brincar de inventar armas e bombas atômicas cada vez mais modernas e letais para destruir o que construímos e, covardemente, eliminar a vida de milhares de seres humanos inocentes, ao mesmo tempo que inventamos medicamentos e vacinas para evitar doenças e prorrogar a vida humana.

Teilhard de Chardin (1881-1985) padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês afirmava que um dia, depois de dominarmos os ventos, as marés e a gravidade, dominaríamos a energia do amor e pela segunda vez na história do mundo, a humanidade teria descoberto o fogo. Sinceramente, fico me perguntando quando chegará esse dia! …

Quem tem ouvidos, que ouça!

(Artigo publicado na página da Agência Primaz de Comunicação https://www.agenciaprimaz.com.br/2024/01/24/mito-de-sisifo-julio-vasconcelos/ em 24/01/2024)

As mazelas da Língua Portuguesa

A OXÍTONA não é OXÍTONA,

é PROPAROXÍTONA!

A PAROXÍTONA não é PAROXÍTONA,

é PROPAROXÍTONA,

mas a PROPAROXÍTONA é PROPAROXÍTONA!

O VERBO não é PERFEITO,

nem IMPERFEITO

e muito menos MAIS QUE PERFEITO!

O VERBO não está no PRESENTE,

nem no PASSADO,

nem no FUTURO

e muito menos no FUTURO DO PRESENTE!

O VERBO é imanente!

O ARTIGO não é FEMININO ou MASCULINO,

nem DEFINIDO ou INDEFINIDO!

O ARTIGO é uma OBRA LITERÁRIA

ou CIENTÍFICA

ou de cama, mesa e banho!

O ADJETIVO virou SUBSTANTIVO

e o SUBSTANTIVO virou ADJETIVO!

Preta é nome da mulher que canta uma canção

e Pelé, qualidade de alguém que tem perfeição!

O MEU pode ser SEU,

o SEU pode ser MEU,

o DELE pode ser MEU

mas o NOSSO pode não ser SEU!

Não existe ORAÇÃO SEM SUJEITO

e nem SUJEITO INDETERMINADO!

Toda ORAÇÃO precisa de um SUJEITO

E todo SUJEITO é DETERMINADO!

O OBJETO não é DIRETO

e nem INDIRETO!

Ele simplesmente é um OBJETO!

Enfim,

a LÍNGUA não é PORTUGUESA

e nem BRASILEIRA

ou de qualquer nacionalidade!

A LÍNGUA pertence ao corpo,

fica dentro da boca

e nos ajuda a falar com naturalidade!