O AMBIENTE VUCA E OS 3P’S E 1S NOS MEIOS ORGANIZACIONAIS
Vivemos um um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo. A sigla VUCA (Volatility, Uncertainly, Complexity, Ambiguity) teve sua origem no meio militar norte-americano nos anos 90 e retrata de forma muito apropriada o momento em que estamos vivendo.
O termo volátil é usado na Química para designar tudo que evapora no seu estado normal com facilidade. Nos meios organizacionais, representa a velocidade das mudanças em que o mundo está envolvido. É uma verdadeira metamorfose ambulante, como dizia Raul Seixas. Lulu Santos, com maestria, reforça este pensamento na música “Como uma onda no mar”: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará. Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo. Tudo muda o tempo todo no mundo”. Todo dia surge um novo aplicativo revolucionário, os smartphones e aparelhos eletrônicos evoluem numa velocidade espantosa, tornando obsoleto o que ontem era uma grande inovação, num ciclo interminável. Grandes empresas quebram, altos executivos com seus egos inflados, que estavam no auge da carreira são presos e, trocando o terno pelo uniforme de presidiário, são colocados atrás das grades. Políticos perdem os cargos e acompanham os executivos para a prisão após serem descobertos em um lamaçal de corrupção e falcatruas. E assim caminha a humanidade…
Incerteza é o fantasma que assola o dia a dia das empresas. A única certeza é que tudo é incerto. O “P” do Ciclo PDCA de Deming encontra dificuldades nunca antes enfrentadas para ser colocado em prática. Planejar tornou-se um desafio de proporções incomensuráveis. É cada vez mais difícil levantar cenários futuros com base em acontecimentos passados. Os famosos planejamentos estratégicos tem que ser revistos em uma periodicidade cada vez maior, com o risco de se tornarem obsoletos e levarem as organizações à autodestruição.
A complexidade é enorme. Tudo se relaciona com tudo e a dificuldade de entender como as partes se relacionam entre si e com o todo desafia as mentes brilhantes. A visão sistêmica ficou ofuscada pelo emaranhado de teias multirrelacionadas. A China desacelera a produção e o mundo inteiro sofre com força o impactos econômico-social, gerando desemprego e pobreza. Multidões de emigrantes deixam seus países fugindo das guerras, impactando de forma dura o bem estar e a consciência das nações desenvolvidas. Desastres ecológicos acontecem gerando consequências enormes para os meios políticos, sociais e organizacionais. Presidentes e políticos eminentes caem afetando de forma direta a estabilidade econômica e social do mundo inteiro.
A ambiguidade impera em todos os sentidos, afetando a vida dos países, das organizações e das pessoas. Afinal, o deus dos terroristas que destroem de forma cruel e covarde vidas inocentes é o mesmo deus dos cristãos e dos judeus que frequentam as igrejas e sinagogas? O grande líder político que governou por longos anos o Brasil e deixou sua economia em frangalhos era de fato um grande estadista ou uma raposa travestida de cordeiro? A mineradora que foi premiada inúmeras vezes como “benchmark” em termos de competência organizacional, social e ambiental e foi responsável por um dos maiores desastres ecológicos do planeta era realmente íntegra ou a sua bela missão, visão e valores era só de fachada, “green-washing”, travestindo-se de verde para obter maquiavelicamente o lucro a todo custo? Onde está a verdade?
Afinal, surge a pergunta que não quer se calar: como fazer para sobreviver em meio a este ambiente? Existe um caminho, uma estratégia a ser traçada?
Os estudos e resultados concretos já alcançados por alguns iluminados indicam que sim! O investimento estratégico nos robustos pilares dos 3P’s e do 1S -People, Planet, Profit e Spirituality -apresenta-nos a solução. Vejamos:
People: o primeiro “P” está relacionado ao ser humano. As pessoas devem estar sempre em primeiro lugar, afinal, por mais que discordem os capitalistas selvagens, a razão primeira de qualquer organização, evidentemente sem abrir mão do lucros, deveria ser o bem estar social. Quem duvida, é bom ver o conceito de Capitalismo Social ou de Capitalismo Consciente, protagonizado por John Mackey, dono da Whole Foods, uma das maiores redes de supermercados americana. A volatilidade das mudanças permanentes, o progresso acelerado da tecnologia, a correria do dia a dia e a busca pela lucratividade não nos dá o direito de passar por cima, de forma maquiavélica, da dignidade do ser humano. É como dar um tiro no próprio pé, o feitiço vira-se contra o feiticeiro e o resultado sempre é desastroso. Com certeza, as incertezas tendem a diminuir quanto maior o investimento no desenvolvimento do ser humano.
Planet: o segundo “P” está relacionado à nossa casa maior, ao planeta. O Papa Francisco na Encíclica Laudato Si já fez o alerta. Ou nós cuidamos bem do nosso planeta ou, em um futuro não muito distante, estaremos todos fadados à autodestruição, sem direito a uma segunda chance. Os gritos desesperados da natureza já andam ecoando em altos brados pelos quatro cantos do planeta, com tremores, inundações, poluição e desastres ecológicos de elevadas proporções e consequências. Estudos recentes realizados nos USA demonstraram que o aumento do número de terremotos está diretamente ligado ao processo agressivo de extração de petróleo. É urgente que entendamos de forma consciente a complexidade do mundo moderno e como as partes se relacionam entre si e com o todo.
Profit: em terceiro lugar temos o terceiro “P”, Profit – lucro. Indiscutivelmente, é inconcebível que uma empresa não dê lucro, com o sério risco de ser enquadrada como socialmente irresponsável, mas esta não pode ser a sua razão primeira de sua existência. O grande diferencial está em entender que este lucro não pode servir para a aceleração das desigualdades sociais e da pobreza e sim para o desenvolvimento social, beneficiando a todos os stakeholders.
Spirituality – espiritualidade. Pode parecer estranho para alguns falar sobre espiritualidade dentro das empresas, mas este realmente o maior de todos os diferencias. Espiritualidade é compreender que existe um Ser maior que governa o universo, não importa que nome se dê a ele e que este Ser inspira um sentimento maior de amor e fraternidade que move todos os seres humanos em busca de um objetivo comum. É a “propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio” (Wikipedia).
A volatilidade, as incertezas, a complexidade e a ambiguidade podem sim serem vencidas através do investimento permanente no desenvolvimento do ser humano, no cuidado inegociável com o nosso planeta, na busca consciente pelo lucro e na espiritualidade do ser humano. É só uma questão de acreditar e colocar estes preceitos em prática de forma estratégica, consciente e inquestionável. Quem term ouvidos que ouça…
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