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GESTÃO COM PESSOAS: QUEBRANDO PARADIGMAS

Paradigmas são crenças cristalizadas que influenciam o comportamento das pessoas e das organizações. Existem alguns paradigmas ultrapassados em termos de gestão com pessoas que comprometem fortemente o alcance dos resultados estratégicos das empresas e precisam urgentemente ser mudados. Vejamos alguns dos mais importantes na prática.

Paradigma 1: O objetivo de uma organização é a obtenção de lucro a todo custo, não importando para isto os meios utilizados.

Quebra do paradigma: o verdadeiro objetivo de uma organização, qualquer que seja, na sua essência, é a contribuição para o bem estar social e para a valorização do ser humano. O lucro, apesar de absolutamente necessário, é consequência desta contribuição. Organizações verdadeiramente comprometidas com o social obtêm elevados níveis de lucratividade.

Paradigma 2: O ser humano é um recurso, e como tal pode e deve ser substituído ou descartado a qualquer momento ao primeiro sinal de crise ou problema enfrentado.

Quebra do paradigma: Não existe mais gestão de recursos humanos e sim gestão com pessoas. Pessoas são o maior patrimônio de uma organização e, como tal, não podem ser maquiavelicamente descartadas. Pelo contrário, devem ser valorizadas em termos de investimento, participação e reconhecimento. Demissões representam perda do capital intelectual da organização e devem a todo custo serem evitadas.

Paradigma 3: O ser humano é preguiçoso por natureza, tem aversão ao trabalho, e como tal deve ser fiscalizado e controlado a todo instante, caso contrário não gerará produtividade.

Quebra do paradigma: O ser humano, independentemente do nível hierárquico, quando devidamente reconhecido e valorizado, se apaixona pelo seu trabalho e gerará elevados índices de produtividade.

Paradigma 4:  A empresa é composta de cabeças pensantes, ocupadas pelos profissionais lotados nos cargos de chefia e de mão de obra, ocupada pelos empregados operacionais. Aos ocupantes dos cargos de chefia compete pensar, aos ocupantes dos cargos operacionais, compete produzir.

Quebra do paradigma: Não existe mão de obra, existe cabeça de obra. A empresa é composta de cabeças pensantes, independentemente do cargo que o empregado ocupa. Todos podem e devem utilizar o conhecimento como forma de alavancar a produtividade.

Paradigma 5: Gestão dos recursos humanos é responsabilidade dos profissionais da área de recursos humanos, aos ocupantes de cargo de chefia compete somente gerir tecnicamente seus processos.

Quebra do paradigma: Não existe mais gestão de recursos humanos, existe gestão com pessoas e esta gestão é de responsabilidade de todos os ocupantes de cargos de liderança da empresa: supervisores, coordenadores, gerentes e diretores. Os profissionais da antiga área de recursos humanos devem funcionar como assessores dos ocupantes dos cargos de liderança.

Paradigma 6: Treinamento é custo e como tal dever ser reduzido ao mínimo necessário.

Quebra do paradigma: Treinamento não é custo, treinamento é investimento. Quanto mais se investe na capacitação e desenvolvimento dos empregados, maior a produtividade e a rentabilidade da empresa, e este retorno financeiro compensa em elevado nível todos os gastos.

Paradigma 7:  O bom empregado é aquele que não contesta as ordens dos seus superiores imediatos. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Quebra do paradigma: O bom empregado é aquele que contesta, de forma adequada e no momento certo, as ordens dos seus superiores imediatos. Ouvir os liderados sempre que possível, antes de tomar uma decisão, leva a obtenção de comprometimento e bons resultados.

Gestão com pessoas veio para ficar. As empresas realmente maduras e que já quebraram de forma concreta estes paradigmas estão obtendo excelentes resultados. Vale a pena refletir sobre o assunto e colocar em prática.

 

CULTURA ORGANIZACIONAL: BEM-VINDO AO INFERNO!

O ano era 2005 e eu acabava de assumir uma Gerência Corporativa de Recursos Humanos em uma empresa familiar na grande São Paulo. Logo que cheguei à cidade, fiquei hospedado em uma residência de propriedade da organização em um condomínio de luxo e, no outro dia cedo, o motorista foi me buscar. Tão logo ele chegou e estacionou o veículo ao lado da pomposa residência, entrei e desejei-lhe um bom dia, estendendo-lhe a mão, sorridente e animado.

O motorista olhou para mim com um certo olhar de desprezo, tocou minha mão estendida com um toque desvivificado e, friamente, respondeu-me: -Bom dia! Bem-vindo ao inferno! Por um breve momento senti-me como se estivesse levado uma pancada. Tentei ainda conservar meu sorriso, mas ele foi desaparecendo de maneira pausada. Recolhi minha mão gelada que tinha sido por ele tocada. Tentei organizar minhas idéias e, nesta tentativa, perguntei-lhe, de forma meio desconcertada:-Como assim, “bem-vindo ao inferno”! Ele, secamente, respondeu-me:-Rapidinho o senhor vai saber! Logo, logo o senhor me fala…O trajeto era curto e ele não comentou mais nada. Chegamos à empresa, passei pela portaria e entrei no “inferno”. Para minha infelicidade, o motorista falara a verdade…

A narrativa acima poderia ser de um filme de terror ou de uma estória dramática, mas infelizmente trata-se de uma realidade! Uma dura e traumática realidade! Pobre dos trabalhadores que precisam sobreviver em empresas como esta, totalmente desprovidas de ética e de civilidade! E o pior é que elas existem, e são muitas por aí espalhadas!…

Gustavo Boog, em seu livro “O Desafio da Competência” desenvolve, de uma maneira muito acertada, uma belíssima abordagem sobre cultura organizacional e, entre os vários tipos de cultura citados, descreve um que denomina de “Inferno Organizacional”. É o tipo característico da empresa em que a busca pelo lucro maquiavélico impera de forma intransigente e desenfreada! Não existe respeito pelas pessoas nem pelas leis e o investimento em tecnologia e processos é inexistente ou escasso. O autoritarismo e o medo são práticas desveladas, tornando a mão-de-obra cada vez mais escravizada.  Os salários são baixos e as condições de trabalho ruim, evidentemente com exceções para algumas classes privilegiadas. O índice de acidente de trabalho é elevado e as punições de caráter extremado: advertências, suspensões e justas-causas são mecanismos altamente utilizados. O critério de seleção e de promoção dos empregados é subjetivo, normalmente ligado a questões pessoais e, por que não dizer, sexuais. São empresas que não possuem organogramas, mas “orgasmogramas”, jargão utilizado de maneira pernóstica e velada por alguns membros de uma cúpula depravada.  Neste contexto, algumas figuras femininas dotadas de atributos físicos excepcionais e desprovidas de competências profissionais, são facilmente encontradas ocupando cargos de direção, com salários em patamares elevados.

Em ocasiões especiais, o poderoso chefão se traveste de “pai-dos-pobres” e promove o “pão e o circo” para a alegria da galera obinubilada. São festas regadas a cerveja e churrasco, onde ele senta-se em uma mesa rodeada de puxa-sacos, distribuindo brindes para a peãozada. No final da festa, tudo se transforma em um verdadeiro carnaval e na segunda-feira, com uma baita ressaca e preocupado com os exageros praticados, volta o trabalhador inseguro ao trabalho, temeroso do que o aguarda!…

A princípio pode parecer muito surrealista este quadro, mas, com certeza, vários leitores que já passaram ou passam por esta infernal etapa compreendem exatamente o que estou falando e sabem do que se trata.

Surge então no ar uma pergunta que não quer se calar: até quando organizações deste tipo vão continuar???

Boog cita ainda no seu livro, um tipo de cultura que denomina de “Nirvana” ou “Paraíso Organizacional”. São tipos de empresas que investem de maneira séria, respeitosa e sistemática na valorização e desenvolvimento de seus empregados, tanto quanto investe na melhoria de seus processos e na obtenção de resultados, não só de curto, mas também de médio e longo prazo. Estas empresas estabelecem a primazia do ser humano sobre o capital. Renomados estudiosos sobre o assunto, entre eles o Peter Drucker, considerado “O Pai da Administração” e o próprio Boog, não tem dúvidas em afirmar que o sucesso de qualquer empresa está relacionado a uma gestão ética, participativa e socialmente responsável e, além disto, ao respeito, ao reconhecimento e à motivação dos empregados. Empresas que não agem assim, com certeza, estão fadadas ao fracasso!

Enfim, Nirvana ou Inferno Organizacional? Vale à pena refletir: Como empresário, em qual tipo de empresa a sua se enquadra? Tem certeza? O que diriam seus empregados se pudessem livremente se expressar?

Como empregado, em qual tipo de empresa você trabalha? Já se perguntou qual o seu papel nisto tudo e o que você está fazendo para reverter ou contribuir para este quadro, se for o caso?

ROTATIVIDADE DE PESSOAL NO VAREJO

O elevado índice de rotatividade de pessoal (turn-over) nas organizações é um problema sério , principalmente no varejo, e precisa ser sanado, pois vem jogando grande parte dos lucros destas organizações pelo ralo. Taxas de 40, 50, 60 ou até 90%, como já ouvi falar, são realmente de assustar! O problema maior está em admitir que esta é uma situação normal. Em uma das aulas do Curso de Pós-Graduação de Gestão Estratégica de Pessoas onde leciono, uma das alunas atribuiu o fato à rebeldia e inconstância da Geração Y, que compõe grande parte dos empregados que atuam nesta área. Outros afirmam que é assim mesmo que funciona, os empregados são preguiçosos e não querem nada com nada e já entram nas empresas pensando em sair para receber o seguro-desemprego! Será???…

O desafio que se apresenta às lideranças é descobrir a causa fundamental do problema, responder de maneira objetiva à pergunta: por que os empregados se desligam de maneira tão precoce destas organizações? Afinal, não é normal que um empregado, qualquer que seja, seja admitido em uma empresa e, após um curto período, já esteja desmotivado e se desligue ou seja desligado. É o famoso “Efeito Balde Furado”: a torneira fica aberta para enchê-lo, mas ele nunca se enche, um buraco no fundo deixa escoar seu conteúdo para o ralo! Contrata-se muita gente todos os dias, mas o quadro de pessoal nunca esta completo, a mão-de-obra (treinada!) “escoa” para o mercado  gerando um prejuízo traumático! Que fatores podem estar contribuindo para isto? Recrutamento e Seleção mal realizados? Falta de reconhecimento financeiro ou pessoal? Problemas de relacionamento com os colegas e/ou com a chefia imediata? Condições de trabalho inadequadas? Carga horária excessiva? Certamente, uma análise prática e criteriosa da Teoria Motivacional de Maslow poderá fornecer uma resposta adequada!…Eis aí um grande desafio para a gestão estratégica de pessoas nas organizações. Com certeza, uma boa consultoria poderá apresentar a solução para o problema apresentado… www.caesarius.com.br

GESTÃO PARTICIPATIVA: UMA EXPERIÊNCIA NA AMAZÔNIA

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Durante a década de 90 tive o privilégio de viver uma experiência ímpar e gratificante na minha vida profissional. Trabalhava em uma empresa do grupo da Vale, em plena floresta amazônica, no norte do estado do Pará, quase divisa com as Guianas e participei da implantação de um Programa de Gestão Participativa na empresa, na época denominado de Projeto Supervisor. Seu objetivo principal era estabelecer um canal livre de comunicação entre a alta direção da empresa e os seus empregados. Através de reuniões periódicas de fóruns livres de debates, com a presença do supervisor e a assessoria de um Analista de Relações Trabalhistas, os empregados tinham oportunidade de se manifestar livremente, sem qualquer tipo de coerção, sobre os problemas que consideravam relevantes e dificultadores para o exercício do seu trabalho. O programa fazia parte da política estratégica da empresa, era fortemente avalizado pela alta direção e os empregados aderiram com entusiasmo e, nas primeiras etapas, um extenso rol de problemas foram levantados.

O programa adquiriu credibilidade por que existia um forte compromisso, formalmente assumido por parte da empresa, em dar um feed-back para os empregados a respeito dos problemas levantados, num prazo máximo de 45 dias e este prazo era rigorosamente respeitado. O desenvolvimento do programa trouxe várias conquistas melhorando significativamente a qualidade de vida dos empregados, a condição de trabalho, o relacionamento interpessoal e, consequentemente, a melhoria da produtividade. No entanto, muitos paradigmas tiveram que ser quebrados!

Lembro-me perfeitamente que, em uma das primeiras reuniões, aberta a sessão, um empregado, ainda meio temeroso de se manifestar, pediu a palavra, dirigiu-se a mim, na época atuando como Analista de Relações Trabalhistas, e perguntou-me se ele poderia realmente reclamar de tudo que ele quisesse, sem risco de punição. De pronto e com bastante ênfase, reforcei perante a ele e a equipe a seriedade do programa e o comprometimento da alta direção com o seu sucesso. Satisfeito com minha resposta, não se fez de rogado; levantou-se, engrossou a voz e disse em alto e bom tom que gostaria de reclamar do supervisor que na sua frente ali estava. Manifestou com ênfase que o supervisor era um ignorante, não sabia tratar as pessoas e que se o programa fosse mesmo sério, alguma providência tinha que ser tomada, pois daquele jeito não dava mais para continuar.

Confesso que me senti surpreso diante tamanha sinceridade! Dei uma rápida suspirada e em busca de uma alternativa para a questão, perguntei a ele se aquele ponto de vista era somente dele ou de toda a equipe e, prontamente, todos os seus companheiros com ele concordaram. Formou-se então, por um instante um grande impasse! Um verdadeiro paradigma tinha ali que começar a ser quebrado, o conceito de chefe começava a ser coisa do passado, a política do “guarde o que você sabe e faça o que eu mando” começava a ser mudada. Encontrei-me assim, diante de uma situação inusitada: como mediador, se tentasse abafar a reclamação dos empregados, correria o risco de perder a credibilidade do programa, que mal começava. Em contrapartida, crucificar o supervisor na frente da equipe também não seria uma atitude acertada. Portanto, como resolver o problema de maneira diplomática?

O supervisor era uma dessas figuras antigas na empresa, já calejado, que vinha há mais de 15 anos dando o sangue para a coisa funcionar e tinha sido muito bem treinado pelos Consultores logo antes do programa começar, para ouvir os empregados. Então, para minha tranquilidade, sua resposta surgiu de maneira rápida, assertiva e ponderada. Tomando a palavra ele perguntou aos presentes se pelo menos uma vez algum deles o tinha procurado para lhe dar um feed-back (palavra mágica que ele já tinha aprendido!) sobre o problema levantado. Os olhares dos presentes se cruzaram, ouvi alguns poucos cochichos, mas logo se calaram. Não se dando por satisfeito, continuou ainda de maneira pausada. Afirmou que, desde que a empresa ali se implantara, de forma intensiva, vinha dando o sangue pelo seu trabalho. A empresa sempre tinha exigido que ele fosse duro, o negócio tinha que dar resultado, custasse o que custar. E ele assim vinha agindo, direitinho como era cobrado, mas agora ele estava percebendo que a exigência era outra e ele estava disposto a mudar. Mas para isto ele precisava de um tempo e da ajuda de todos para se adaptar à nova realidade. Sabia que não ia ser fácil, mas ele estava disposto a tentar. Terminou sua fala, de uma maneira firme, mas humilde, reforçando seu pedido de ajuda para se adaptar. Surgiram ainda alguns comentários no meio da turma, mas sua argumentação e pedido de ajuda foram convincentes para a grande maioria e, assim sendo, teve início, a partir daí, uma nova jornada. A gestão participativa foi abrindo espaço e, gradativamente, trazendo resultados em termos de satisfação e produtividade.

O caso parece isolado, mas vários outros podem ser destacados; basta olhar a relação das Melhores Empresas para se Trabalhar no Brasil da Revista Exame! São empresas de sucesso que descobriram que investir em gente dá resultados!  Recentemente foi divulgada uma entrevista na CBN sobre o sucesso alcançado pela Caraíba Metais que, apesar da crise, com a implantação de um programa de sugestões com a participação efetiva dos empregados, passou de um prejuízo de US$50 milhões de dólares para um lucro equivalente ao mesmo patamar, em um período de tempo relativamente curto.  A verdade é que o antigo Asdrubal Chefe de Pessoal e o Capataz Manoel Voraz estão perdendo seu espaço. Gestão com pessoas veio para ficar! O conceito de mão-de-obra está ficando para trás, cabeça-de-obra dá muito mais resultado. O ser humano não é só mão, é também cabeça e coração que, sente, pensa, age e reage em busca de melhores resultados quando verdadeiramente reconhecido e motivado. Se a sua empresa ainda não se despertou para este fato, tome cuidado! Seus talentos humanos estão sendo desperdiçados ou engolidos pelos seus concorrentes no mercado!